quarta-feira, 22 de abril de 2009

sinédoque, nova iorque - charlie kaufman (2008)

O tempo é como uma rua, você pode andar pra frente e pra trás nela, mas você nunca poderá mudá-la. Porém, se você criar outra rua, exatamente igual a essa, as coisas podem ser um pouco diferentes. Esse texto é sobre o filme Sinédoque Nova Iorque assistido na sala 1 do Cine Belas Artes, sessão das 21:30. Existem muitas coisas na minha história, e acho que na de todos, que poderiam ser mudadas. Mais do que só mudadas, mas momentos que gostaríamos de reviver, de relembrar, de ver com outro ponto de vista. Momentos que por vezes parecem ser menores tomam outra forma, outro valor. Sinédoque significa trocar a parte pelo todo, uma espécie de metáfora, figura de linguagem que você substitui uma palavra pela outra para tornar o texto mais expressivo, como em cabeça de gado, a estação das rosas chegou, e outros exemplos, e é disso que o filme trata. Da simulação de uma coisa pela outra, e em momentos que a simulação torna-se mais real do que a própria verdade. Pois a simulação pode nos trazer algo mais real do que o simples viver a vida. Exagerar, diminuir, trocar de papel a favor de algo que não sabemos exatamente o que é mas sabemos onde vamos chegar. Sem nota, pois esse filme está absolutamente acima de qualquer julgamento pessoal, não por ser melhor ou pior que outros, mas não me sinto qualificado a concluir sobre ele e acredito que ninguém seja. O link no pôster é pro site do filme, obrigatório de você já leu tudo isso. Site lindo, maravilhoso, dá pra ouvir todas as músicas do filme, pra ser visto e revisto, como o filme. Sentado na espuma, retinas enxergaram luz colorida projetada no sintético branco. Retinas que , ao focalizar, refletiram muitas coisas, inclusive o fim. Sinédoque.

terça-feira, 14 de abril de 2009

estudo

Até em que ponto arquitetura produzida por alunos inexperientes e intransigentes tem valor? Não conhecemos projetos, praças, cidades e, se conhecemos, não sabemos suas áreas, idéias, contexto ou a simples questão de como se acessa a unidade, por dentro ou por fora.
Sempre que reflito sobre isso, e não são poucas vezes, Gropius se revira na vala; fala do ímpeto inerente ao ser humano, quase uma habilidade natural de se solucionar. E eu o escuto até o final, que é quando realmente posso discordá-lo. Pois Walter fala que a solução acertada só é confirmada com a pesquisa que ratifica que a solução encontrada é na verdade uma releitura de soluções consagradas. E isso não ocorre. Não ocorre.
O aluno descobre que escada externa não é só pra tragédias, que hall aberto é varanda coletiva e que galeria subterrânea é interessante e pára por aí. Se orgulha do projeto, exibe o render pro colega, a maquete pra família, mas não mostra o saber a si mesmo. No máximo lembra do mestre mostrando algo relacionado no slide que ele não foi atrás, do orientador que falou de brasília, mas o (pseudo)estudante não se interessou, contenta-se com o raso que funciona apenas na tela preta. Tão raso que na primeira maquete física erra, que na maquete eletrônica rasura, desmancha, retrocede.
No entanto sua glória permanece, pois ela é idealizada e está realmente apenas nos olhos do projetista, tal qual pai de criança feia. Os traços não se relacionam, os elogios vão sumindo, mas tudo menos a mudança. Tudo menos o fácil e talvez o mais adequado, que não se sabe que é mais adequado pois não se foi aprendido.
Mas respondendo à primeira pergunta: tem valor. O valor está no momento em que ele percebe que Cerdà faria melhor. O ganho surge quando, na discussão com o educador, sua posição de hoje entra confronta com a de ontem e quando a discussão rasa na lanchonete já não significa mais nada. O produto é conseqüência, a meta é o processo.
Aluno vem do latim, aquele que não possui luz, que vive no breu esperando pra ser iluminado por quem professa em escola. O valor real é revogar a condição de aluno e conquistar a posição de estudante.

domingo, 12 de abril de 2009

nome próprio - murilo salles (2008)

Essa cultura do blog é uma coisa esquisita, é a retomada da linguagem escrita, é a nova porta de entrada pro mundo jornalístico, literário, escrito. A (minha) palavra escrita é muito mais difícil que a falada, demora mais pra ser feita, é muito mais pensada. Mas qual é o verdadeira valor disso tudo? Pois existem muitos blogs, milhares, muitas palavras escritas e a maioria delas impensadas, vazias. Essa total banalização desmerece o trabalho de alguns mas também enaltece o de outros. Vou explicar.
Se só existissem blogs bons, que pra você criar tivesse que passar por um vestibular da escrita, os leitores teriam sempre a segurança que aquilo que foi publicado tem qualidade, mas daí teríamos que ficar subordinados à alguns falsos intelectuais, que só aprovariam seus seguidores, seus contatos, seu mundinho, tal qual é conseguir uma pós-graduação na usp. Não, assim não seria bom. Mas por outro lado, por todos poderem ter um blog, o fato de eu, pedro botton, pensar para escrever, tentar, mesmo que sem sucesso, produzir bons textos, reflexivos e interessantes, não significa tanto, não atinge tanto, fica disfarçado por esse imensa nuvem virtual de palavras escritas. Porém, o que se destaca na neblina prova sua qualidade indiscutível, o relâmpago no temporal. Como foi Darwin.
Porém quando um blog é passado, primeiro pra livros, depois pro cinema, o resultado é lamentável. Um filme vazio, bobo, com textos fracos, diálogos que beiram o trabalho de escola e citações, provavelmente transcritas do blog, que dão vergonha por tão infantis. Muitos filmes, a maioria dos bons, são livros que, transformados em roteiros, passaram por uma lente e pararam na tela. A maioria mesmo. E isso se dá pois conseguir publicar um livro é muito mais difícil do que postar em um blog, passa pela aprovação da editora, os figurões que aprovariam os blogs. E isso resulta numa qualidade melhor? Sim, claramente. Porém quantos bons escritores não podem ter se perdido pelo fato de não aceitarem fazer parte do mundinho escroto que é a mídia? Alguns, talvez nenhum, talvez muitos, mas eu sinceramente acho que se houve essa perda, ela foi compensada pela boa qualidade da maioria dos livros. É, os figurões talvez tenham realmente faro para o que presta e o que não.
Esse post é sobre o filme Nome Próprio, que eu assisti no Cinesesc às 19:00 no dia 12.04.09. Uma estrela, bem ruinzinho mesmo, nem o cartaz se salva. Porém alguns comentários na saída da sessão muito favoráveis, acho que ouvi até um "bárbaro". Espero que não tenham vindo de figurões.