sexta-feira, 13 de março de 2009

azar

Hoje foi um dia de azar. Se sobrou, se faltou, se atrasou, se adiantou, era o azar. Agora em casa essa certeza fica meio turva, refringe a verdade, torna outra coisa. Azar? Se perder a hora fosse azar não existiriam mais espelhos no mundo a serem quebrados. Se ter que ouvir (sempre) a caixa postal fosse azar, todo mundo teria gatos pretos em casa. Não, não foi um dia de azar. Foi um dia normal. Claro, erros foram cometidos, mais do que acertos, mas é um equilíbrio, e se ontem eu fiz sorrir, hoje nem tanto, amanhã quiçá uma lembrança, até chegar a indiferença, um sorriso, um abraço e pronto, tá lá o sorriso de novo. Essa é a idéia principal, humor, reversibilidade, efemeridade. Pelo menos já foi o revés, que se não fosse hoje, seria amanhã. Pronto, passou.

quinta-feira, 5 de março de 2009

modernismo - oscar niemeyer

Eu sempre duvidei um pouco do modernismo. Como um bando de burgueses alugam o teatro municipal pra, pela primeira vez, retratar o negro em tinta óleo? Paradoxal, pra mim. Quando entrei na fau, mais ainda. Eu aprendi que a burguesia financiou a construção da casa que ia contra os princípios burgueses, construída por Paulo Mendes. Mas com o passar do tempo fui compreendendo, que a mudança vem de quem pode financiá-las, e que a burguesia não é só quem tem mais grana, mas também quem mais pensa, quem mais aprendeu. Quase acreditei nessa. Eu me recuso, e sempre me recusei, a me pensar como a burguesia. Erro meu, eu sei, mas não me coloco nesse nicho. Agora me aparece essa coleção de jóias H.Stern inspirada em Niemeyer. E pra mim não é surpresa. Concreto armado sempre foi caro, Brasília saiu do bolso dos nossos avós. O modernismo foi e continua sendo pra quem tem grana, e o colar feito de curvas femininas adornará o colo da neta da senhora que jantou no Itamaraty. Cada vez mais me convenço que o importante é morar, seja no barraco de madeira suportado por palafitas na favela da Maré, seja na laje dos seus pais em Paraisópolis. E é esse o problema que temos que resolver, com maneiras viáveis, materiais viáveis, idéias viáveis. E não como a dama vai ficar mais bela no jantar. Isso o modernismo já resolveu.