domingo, 24 de maio de 2009

parque buenos aires - higienópolis

Uma placa: proibida a entrada de animais. Mas existem cachorros por toda parte, na verdade eles são os que mais parecem aproveitar o lugar. Outra placa: proibido pisar na grama, porém a criança cercada de verde daria uma belíssima foto. Por que tantas placas, tanta proibição? Esse texto é sobre a praça que virou parque. A legislação da cidade de São Paulo diz que se o espaço livre receber o nome de praça ele não pode ser cercado de grades, e portanto, fechado. Praça é um lugar não só de permanência, mas também de passagem, de encontro e desencontro, enfim, de vida. Faz parte da malha urbana, de percursos de casa ao trabalho, da escola ao cinema. Mas isso acarreta certo problemas, pelo fato de nunca fechar se torna mais convidativo à vândalos e maloqueiros em geral, o que é um problema. A solução de uma comunidade altamente endinheirada foi transformar o espaço antes de todos em um parque. Esse diferenciação, que pode parecer apenas de nome traz disfarçada uma permissão fundamental: o parque pode sim ser cercado por grades e ter horário de funcionamento. Pode haver uma legislação própria, proibições arbitrárias e tudo mais. O problema dos maloqueiros foi resolvido, mas a um preço ridiculamente alto. O que é curioso é que o agora parque possui seguranças que lá ficam 24 horas a fim de impedir que um morador de rua possa pular a grade para dormir em algo mais confortável que a sarjeta, mas porque não colocar esses oficiais antes da praça deixar de ser plenamente pública? Isso com certeza evitaria as grades, mas não é essa a proposta, a sociedade tem a tendência a se preocupar só com o que pode ser chamado de meu, ou nosso, mas nunca de todos. O que é de todos torna-se de ninguém. Um girassol plantado em praça pública torna-se passível de ir pr'um vaso na sacada do neo-clássico só pelo fato de ser público. É a mutilação do espaço coletivo. Tirar um girassol de uma praça é tirar uma praça da cidade, é privar a cidade como organismo de uma área de respiro, de qualidade, e o mesmo morador que votou sim pra cerca vai ter que dar a volta numa quadra que não tem olhos pra rua. Hoje vi uma madame vir com seu cachorrinho no colo até chegar ao parque, pois ali sim é lugar seguro. Mas quem garante que a praça está segura da madame?